O que é o HACCP? Obrigatoriedade, legislação e aplicação prática em Portugal    

Garantir a segurança dos alimentos é uma obrigação legal e uma responsabilidade essencial de qualquer empresa que produza, manipule, transforme, armazene ou sirva géneros alimentícios. Em Portugal, o sistema HACCP é a ferramenta de referência para assegurar esse controlo, sendo obrigatório para todo o setor alimentar. Mas afinal, o que significa HACCP, para que serve e quem está obrigado a aplicá-lo?

Este artigo explica, de forma técnica e acessível, tudo o que precisa de saber: conceito, origem, legislação aplicável, obrigatoriedade e vantagens para as empresas.

1. O que é o sistema HACCP?

O HACCP – Hazard Analysis and Critical Control Points (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controlo) é um sistema preventivo de segurança alimentar que identifica, avalia e controla os perigos que podem comprometer a segurança dos alimentos.

O HACCP atua sobre três tipos de perigos:

Perigos biológicos

  • Bactérias patogénicas (Salmonella, Listeria, E. coli)

  • Vírus como norovírus e hepatite A

  • Parasitas e toxinas microbianas

Perigos químicos

  • Resíduos de detergentes e desinfetantes

  • Alergénios mal identificados

  • Pesticidas, metais pesados e contaminantes

Perigos físicos

  • Fragmentos de vidro, metal ou plástico

  • Utensílios danificados

  • Corpos estranhos acidentalmente introduzidos nos alimentos

O foco principal do HACCP é prevenir falhas antes de comprometerem o consumidor. Para isso, segue os sete princípios estabelecidos pelo Codex Alimentarius, como a determinação de Pontos Críticos de Controlo (PCC), definição de limites críticos, monitorização e documentação rigorosa.

Exemplo prático

Se um restaurante recebe frango fresco, o HACCP determina:

  • temperatura correta de receção (≤ 5 ºC),

  • armazenamento imediato,

  • separação de outros alimentos,

  • confeção acima de 75 ºC.

Estes controlos evitam a multiplicação de bactérias que causam intoxicações alimentares.

 

2. Origem e fundamentação científica do HACCP

O HACCP foi criado na década de 1960 pela Pillsbury, NASA e os Laboratórios do Exército dos EUA, para garantir que os alimentos enviados para o espaço estavam isentos de perigos. Qualquer falha na segurança podia comprometer a vida dos astronautas.

Por ser eficaz, o sistema foi posteriormente adotado pelo Codex Alimentarius, que formalizou os seus princípios científicos e transformou o HACCP num padrão internacional de segurança alimentar. Hoje, é aplicado em indústrias, restauração e comércio alimentar em todo o mundo.

O sucesso do HACCP assenta em:

  • microbiologia alimentar,

  • análise de risco,

  • engenharia de processos,

  • verificação científica,

  • auditorias e melhoria contínua.

É por isso considerado o método mais fiável e rigoroso para prevenir riscos alimentares.

3. Base legal do HACCP em Portugal

O HACCP é obrigatório por força da legislação europeia com aplicação direta.

Regulamento (CE) n.º 852/2004 — Higiene dos Géneros Alimentícios

O Artigo 5.º deste regulamento estabelece que:

Todos os operadores do setor alimentar devem implementar, aplicar e manter procedimentos baseados nos princípios do HACCP.

Este regulamento é o principal fundamento legal da obrigatoriedade do HACCP em Portugal.

Além disso, aplicam-se:

A ASAE é a entidade responsável pela vigilância, podendo aplicar coimas, suspender atividades ou apreender produtos sempre que detete incumprimento.

4. Quem precisa de aplicar o HACCP?

A legislação determina que todas as empresas que manipulem alimentos devem implementar HACCP, independentemente da sua dimensão ou processo produtivo.

Setores abrangidos

  • Restaurantes, cafés, pastelarias e bares

  • Hotéis, alojamentos e unidades de turismo

  • Panificação, pastelaria e charcutaria

  • Indústrias agroalimentares

  • Talhos, peixarias e frutarias

  • Supermercados e minimercados

  • Armazéns e entrepostos

  • Empresas de catering

  • Cantinas escolares e hospitalares

  • Transporte de alimentos

E as microempresas?

Também estão obrigadas.
Podem, no entanto, aplicar HACCP simplificado, ajustado à sua realidade, conforme previsto no Regulamento (CE) 852/2004.

Exemplo prático:
Uma pequena pastelaria com dois trabalhadores deve manter registos básicos de:

  • temperaturas dos equipamentos,

  • higienização,

  • controlo de pragas,

  • rastreabilidade,

  • formação dos trabalhadores.

O sistema pode ser mais simples, mas nunca pode deixar de existir.

5. Porque é que o HACCP é obrigatório em Portugal?

Existem três razões essenciais que explicam a obrigatoriedade.

5.1 Proteção da saúde pública

O HACCP é a forma mais eficaz de prevenir:

  • intoxicações alimentares,

  • contaminações cruzadas,

  • surtos de doenças de origem alimentar.

5.2 Responsabilidade legal do operador

A lei obriga o operador a garantir a segurança dos alimentos que produz e comercializa. Sem HACCP, essa responsabilidade não é cumprida.

Exemplo prático:
Se um restaurante servir alimentos contaminados, é o operador que responde perante a lei.

5.3 Garantia de confiança e competitividade

O HACCP uniformiza práticas no setor, assegurando que todas as empresas seguem padrões mínimos de higiene e segurança.

Grandes clientes, como supermercados ou hotéis, exigem frequentemente que os seus fornecedores tenham um HACCP sólido e atualizado.

 

6. Quais são os benefícios do HACCP para as empresas?

Para além do cumprimento legal, o HACCP traz vantagens práticas e estratégicas importantes.

6.1 Maior eficiência operacional

  • Processos padronizados

  • Menor risco de falhas

  • Melhor organização interna

6.2 Redução de desperdícios e custos

  • Menos produtos estragados

  • Menos devoluções

  • Menos perdas financeiras por avarias ou má gestão

6.3 Confiança dos consumidores e parceiros

Um sistema HACCP bem implementado transmite:

  • profissionalismo,

  • rigor,

  • segurança,

  • responsabilidade.

6.4 Proteção da reputação

Evita incidentes alimentares que podem manchar a imagem de uma empresa durante anos.

6.5 Facilita auditorias e certificações

Um HACCP bem estruturado facilita:

  • auditorias da ASAE,

  • auditorias internas,

  • a implementação de normas como ISO 22000, BRC, IFS.

Conclusão

O HACCP é mais do que uma exigência legal — é uma ferramenta essencial para garantir a segurança alimentar, proteger o consumidor e fortalecer a competitividade das empresas em Portugal. Todas as entidades que manipulam alimentos têm a obrigação de implementar um sistema HACCP adequado à sua realidade, com base no Regulamento (CE) n.º 852/2004.

Ao adotar um HACCP eficaz, a empresa demonstra:

  • compromisso com a saúde pública,

  • cumprimento da legislação,

  • organização interna,

  • e qualidade no serviço prestado.

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